12º ano

Português - 12º ano


Esta página foi criada para apoiar o percurso escolar dos alunos do 12º ano de Português, turma LH/CT do ensino recorrente noturno da Escola Secundária Leal da Câmara.


Bem-vindos!




Para conhecer o programa de Português do 12º ano, visionar a apresentação abaixo. Se necessário, poderão consultar o Dicionário de Português Online para acederem ao significado dos novos conceitos.

Textos Líricos  

Poemas de Fernando Pessoa (ortónimo e heterónimo)




Para preparar o estudo desta unidade, devem visualizar as apresentações. São conhecimentos que devem adquirir, mas o mais importante da aprendizagem consiste em ler e interpretar poemas do autor e seus heterónimos, reconhecendo neles as características formais e temáticas evidenciadas nos vídeos abaixo. 








Orientações de leitura do poema 
"
Ela canta, pobre ceifeira"


Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,

Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.

Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração
a tua incerta voz ondeando!


Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência

Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!

Depois, levando-me, passai!






  1. Obs.: no quadro sobre a objetividade e subjetividade presentes no poema, coexistem as duas grafias, de antes e de após o Acordo Ortográfico.






Os heterónimos












TODO RICARDO REIS:


Médico de profissão, monárquico, facto que o levou a viver emigrado alguns anos no Brasil, educado num colégio de jesuítas, recebeu, pois, uma formação clássica e latinista e foi imbuído de princípios conservadores, elementos que são transportados para a sua concepção poética. Domina a forma dos poetas latinos e proclama a disciplina na construção poética. Ricardo Reis é marcado por uma profunda simplicidade da concepção da vida, por uma intensa serenidade na aceitação da relatividade de todas as coisas. É o heterónimo que mais se aproxima do criador, quer no aspecto físico - é moreno, de estatura média, anda meio curvado, é magro e tem aparência de judeu português (Fernando Pessoa tinha ascendência israelita)- quer na maneira de ser e no pensamento. É adepto do sensacionalismo, que herda do mestre Caeiro, mas ao aproximá-lo do neoclassicismo manifesta-o, pois, num plano distinto como refere Fernando Pessoa em Páginas Íntimas e Auto Interpretação, (p.350): «Caeiro tem uma disciplina: as coisas devem ser sentidas tais como são. Ricardo Reis tem outra disciplina diferente: as coisas devem ser sentidas, não só como são, mas também de modo a integrarem-se num certo ideal de medida e regras clássicas.».



Associa-se ainda ao paganismo de Caeiro e suas concepções do mundo vai procurá-las ao estoicismo e ao epicurismo (segundo Frederico Reis a filosofia da obra de Ricardo Reis resume-se num epicurismo triste -in Páginas Íntimas e Auto Interpretação, p.386). A sua forma de expressão vai buscá-la aos poetas latinos, de acordo com a sua formação, e afirma, por exemplo, que «Deve haver, no mais pequeno poema de um poeta, qualquer coisa por onde se note que existiu Homero» (Páginas Íntimas e Auto Interpretação, p.393).


POESIAS

A Abelha     - P - C - 
A Cada Qual     - P - C - 
A Flor Que És     - P - C - 
A Nada Imploram     - P - C - 
A Palidez Do Dia     - P - C - 
Acima Da Verdade     - P - C - 
Aguardo     - P - C - 
Anjos Ou Deuses     - P - C - 
Antes De Nós     - P - C - 
Ao Longe     - P - C - 
Aos Deuses     - P - C - 
Aquí, Dizeis     - P - C - 
Aquí, Neera     - P - C - 
Aquí, neste misérrimo desterro     - P - C - 
As Rousas     - P - C - 
Atrás Não Torna     - P - C - 
Azuis Os Montes     - P - C - 
Bocas Roxas     - P - C - 
Breve O Dia     - P - C - 
Cada Coisa A Seu Tempo     - P - C - 
Cada Dia Sem Gozo     - P - C - 
Cada Um     - P - C - 
Como Se Cada Beijo     - P - C - 
Coroai-me     - P - C - 
Cuidas, Índio     - P - C - 
Da Lâmpada     - P - C - 
Da Nossa Semelhança     - P - C - 
De Apolo     - P - C - 
De Novo Traz     - P - C - 
Deixemos, Lídia     - P - C - 
Dia Após Dia     - P - C - 
Do Que Quero     - P - C - 
Domina Ou Cala     - P - C - 
É Tão Suave     - P - C - 
Estás Só     - P - C - 
Este Seu Escasso Campo     - P - C - 
Feliz Aquel     - P - C - 
Felizes     - P - C - 
Flores     - P - C - 
Frutos     - P - C - 
Gozo Sonhando     - P - C - 
Inglória     - P - C - 
Já Sobre A Fronte     - P - C - 
Lenta, Descansa     - P - C - 
Lídia, Ignoramos     - P - C - 
Melhor Destino     - P - C - 
Mestre     - P - C - 
Meu Gesto     - P - C - 
Nada Fica     - P - C - 
Não A Ti, Cristo, Odeio Ou Menosprezo     - P - C - 
Não A Ti, Cristo, Odeio Ou Te Não Quero     - P - C - 
Não Canto A Noite     - P - C - 
Não Consentem     - P - C - 
Não Queiras     - P - C - 
Não Quero     - P - C - 
Não Quero Recordar Nem Conhecer-me     - P - C - 
Não Quero, Cloe     - P - C - 
Não Sei De Quem Recordo Meu Passado     - P - C - 
Não Sei Se É Amor Que Tens     - P - C - 
Não Só Quem Nos Odeia Ou Nos Inveja     - P - C - 
Não Só Vinho     - P - C - 
Não Tenhas     - P - C - 
Negue-me Tudo A Sorte     - P - C - 
Nem Da Serva     - P - C - 
Ninguém A Outro Ama     - P - C - 
Ninguém, Na Vasta Selva Virgem     - P - C - 
No Breve Número     - P - C - 
No Ciclo Eterno     - P - C - 
No Magno Dia     - P - C - 
No Mundo     - P - C - 
Nos Altos Ramos     - P - C - 
Nunca A Alheia Vontade     - P - C - 
O Deus Pã     - P - C - 
O Mar Jaz     - P - C - 
O Que Sentimos     - P - C - 
O Rastro Breve     - P - C - 
O Ritmo Antigo     - P - C - 
O Sono É Bom     - P - C - 
Olho Os Campos     - P - C - 
Os Deuses Desterrados     - P - C - 
Os Deuses E Os Messias     - P - C - 
Ouvi Contar Que Outrora     - P - C - 
Para Os Deuses     - P - C - 
Para Ser Grande     - P - C - 
Pesa O Decreto Atroz     - P - C - 
Pois Que Nada Que Dure     - P - C - 
Ponho Na Altiva Mente     - P - C - 
Prazer, Mas Devagar     - P - C - 
Prefiro Rosas     - P - C - 
Quando, Lídia, Vier O Nosso Outono     - P - C - 
Quanta Tristeza E Amargura Afoga     - P - C - 
Quanto Faças     - P - C - 
Quão Breve     - P - C - 
Quem Diz Ao Dia     - P - C - 
Quer Pouco     - P - C - 
Quero Dos Deuses     - P - C - 
Quero Ignorado     - P - C - 
Rasteja Mole     - P - C - 
Sábio     - P - C - 
Saudoso     - P - C - 
Se A Cada Coisa     - P - C - 
Se Recordo     - P - C - 
Segue O Teu Destino     - P - C - 
Seguro Assento     - P - C - 
Sereno Aguarda     - P - C - 
Severo Narro     - P - C - 
Sim     - P - C - 
Só Esta Liberdade     - P - C - 
Só O Ter     - P - C - 
Sob A Leve Tutela     - P - C - 
Sofro, Lídia     - P - C - 
Solene Passa     - P - C - 
Súbdito Inútil     - P - C - 
Tão cedo passa tudo quanto passa     - P - C - 
Temo, Lídia     - P - C - 
Tênue     - P - C - 
Tiren-me Os Deuses     - P - C - 
Tuas, Não Minhas     - P - C - 
Tudo     - P - C - 
Tudo Que Cessa     - P - C - 
Uma Após Uma     - P - C - 
Uns     - P - C - 
Vem Sentar-te Comigo     - P - C - 
Vive Sem Horas     - P - C - 
Vivem Em Nós Inúmeros     - P - C - 
Vós Que, Crentes     - P - C - 
Vossa Formosa     - P - C - 

I: Inglês, P: Português, C: Castellano


In: http://www.fpessoa.com.ar/


CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS DE RICARDO REIS

“Reis procura simplesmente aderir ao momento presente, gozá-lo, sem nada mais pedir.”



Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
A filosofia de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, o “carpe diem”, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade – ataraxia.
Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:
- “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
- Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
- Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
- Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
- Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).
Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante o poder dos teus e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.
A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.
A filosofia de Reis rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.


Síntese das suas características temáticas e estilísticas: 

- Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde uma expressão perfeita;
- Recurso frequente à assonância, à rima interior e à aliteração;
- Predomínio da subordinação;
- Uso frequente do hipérbato;
- Uso frequente do gerúndio e do imperativo;
- Uso de latinismos;
- Metáforas, eufemismos, comparações, imagens;
- Estilo construído com muito rigor e muito denso;
- Precisão verbal;
- Recurso à mitologia (crença e culto aos deuses);
- A conceção dos deuses como um ideal humano
- As referências aos deuses da Antiguidade (neo-paganismo) greco-latina como forma de referir a primazia do corpo, das formas, da natureza, dos aspectos exteriores, da realidade, sem cuidar da subjectividade ou da interioridade - ensinamentos de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos;
-   A recusa de envolvimento nas coisas do mundo e dos homens;
- Princípios de moral e da estética epicurista e estoica;
- Tranquila resignação ao destino;
- Poeta Intelectual, sabe contemplar: ver intelectualmente a realidade;
- Aceita a relatividade e a fugacidade das coisas;
- A verdadeira sabedoria da vida é viver de forma equilibrada e serena;
- Características modernas no poeta: angústia e tristeza;
- Privilegia a ode;
- Usa a inversão da ordem lógica, favorecendo o ritmo das suas ideias disciplinadas;
- ”epicurista triste”- (Carpe Diem)- busca do prazer moderado a da ataraxia;
- Adere ao estoicismo – aceitação calma e serena da ordem das coisas;
- É moralista – pretende levar os outros a adoptar a sua filosofia de vida;

- Possui um espírito grave , ansioso pela perfeição;
- Aceitação do Fado, da ordem natural das coisas;



Na Linguagem:

Estilo densamente trabalhado, erudito, de sintaxe alatinada, com hipérbatos, na construção de frase, e com apóstrofes, metáforas, comparações.
Uso corrente do gerúndio e do imperativo;
Preferência pela Ode do estilo da de Horácio;
Linguagem erudita com vocabulário caracterizado pelo uso de latinismos);
Irregularidade métrica;
Estilo laboriosamente trabalhado; elegante; pesado.


Textos épicos 

Materiais de apoio ao estudo de Os Lusíadas de Luís de Camões


O Humanismo e o Renascentismo





Documentário sobre Luís de Camões - vida e obra


                                                     Estrutura de OS LUSÍADAS


Os Lusíadas e a Mensagem





A Estrutura da Mensagem


Outros materiais de apoio ao estudo de A Mensagem de Fernando Pessoa
Texto integral : AQUI
Recursos de apoio ao estudo da obra:
Recursos propostos em: http://port12ano.blogspot.pt/
.

As mensagens-da-mensagem por hipólito from Arminda F M Gonçalves





Quadro-síntese comparativo entre OS LUSÍADAS e A MENSAGEM


Os Lusíadas
Mensagem
ü  Homens reais com dimensões heroicas mas verosímeis;

ü  Heróis de carne e osso, bravos mas nunca infalíveis;
ü  Heróis mitificados, desencarnados, carregando dimensões simbólicas

v  Brasão ® Terra ® Nun’Álvares Pereira
v  Mar Português ® Mar ® Infante D. Henrique
v  O encoberto ® Ar ® D. Sebastião

 
(de uma terra de dimensões conhecidas parte-se à descoberta do mar e constrói-se um império. Depois o império se desfez e o sonhos e o Encoberto são a raiz a esperança de um Quinto Império)
ü  Herói coletivo: o povo português
ü  Virtudes e manhas
ü  Heróis individuais exemplares (símbolos)

ü  D. Sebastião (rei menino) a quem Os Lusíadas são dedicados;
“tenro e novo ramo”

 
ü  D. Sebastião mito “loucura sadia”
Sonho, ambição
(repare-se que D. Sebastião é a última figura da história a ser mencionada, como se se quisesse dizer que Portugal mergulhou, depois do seu desaparecimento num longo período de letargia)
ü  Celebração do passado – história
ü  Glorificação do futuro – símbolos
ü  Messianismo a mola real de Portugal
ü  Narrativa comentada da história de Portugal (cf. Jorge Borges de Macedo)
Teoria da história de Portugal
ü  Metafísica do Ser português
ü  Três mitos basilares:
o    Adamastor
o    Velho do restelo
o    A ilha dos amores
ü  Tudo é mito
“o mito é o nada que é tudo”


ü  ação
ü  contemplação
ü  altiva rejeição do real
ü  império feito e acabado
ü  Portugal indefinido, atemporal
ü   
ü  Saudade profética ® saudades do futuro
ü  Façanhas dos barões assinalados
ü  Matéria dos sonhos
ü  Temporalidade

ü  A temporalidade mística
ü  Síntese pagão e cristão
ü  Síntese total (sincretismo religioso)
ü  D. Sebastião como enviado de Deus para alargar a Cristandade
ü   Portugal como instrumento de Deus
(os heróis cumprem um destino que os ultrapassa)
ü  cabeça da Europa
ü  Rosto da Europa que aguarda expectante o que virá




Felizmente Há Luar de Luís de Sttau Monteiro


Filme sobre a peça - uma boa introdução ao estudo da obra



As Categorias da Narrativa em Felizmente Há Luar

Felizmente Há Luar! Acção Dualidade Acto I Os mecanismos do poder <ul><li>União de conveniência entre os governantes </li>...

Felizmente Há Luar!   -  personagens Estratos sociais Apoiantes do poder absoluto Apoiantes do poder liberal Forças milita...

Povo Amigos Matilde Gomes Freire de Andrade Beresford Miguel Forjaz Principal Sousa Vicente Corvo Morais Sarmento Ódio por...
    A explicação do título da obra

- personagens psicologicamente densas e vivas
- comentários irónicos e mordazes
- denúncia da hipocrisia da sociedade
- defesa intransigente da justiça social
- a intemporalidade da peça remete-nos para a luta do ser humano contra a tirania, a opressão, a traição, a injustiça e todas as formas de perseguição
- preocupação com o homem e o seu destino
- luta contra a miséria e a alienação
- denúncia a ausência de moral
- alerta para a necessidade de uma superação com o surgimento de uma sociedade solidária que permitia a verdadeira realização do homem

As personagens são psicologicamente densas, os comentários irónicos e mordazes. 
Denuncia-se a hipocrisia da sociedade, a luta contra a miséria e a alienação, a preocupação com o Homem e o seu destino. 

Enquanto teatro épico e drama narrativo de caráter social, a peça oferece-nos uma análise crítica da sociedade, procurando mostrar a realidade em vez de a representar, para levar o espetador a reagir criticamente e a tomar uma posição. 

Escrito na linha de Brecht, exprime a revolta contra o poder, pois o homem tem o direito e o dever de transformar a sociedade em que vive. Assim, a peça tem sobretudo o objetivo de levar o espetador a reagir criticamente.

Fonte: http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/luar.htm




Elementos Simbólicos em Felizmente Há Luar



Os elementos simbólicos são portadores de uma dupla dimensão simbólica/ Os símbolos assumem uma dualidade de sentidos para a qual convergem a vida e a morte, numa perspectiva polissémica e dicotómica (bipolarização).

·       Relógio de bolso e colete (p.17): símbolos de riqueza, a que os populares fazem referência de forma irónica e sarcástica, para demonstrarem a grande dicotomia existente entre pobres e ricos;
·       Tambores (p.17, 71, 73 e 77): símbolo da repressão exercida sobre o povo e da opressão do poder sobre eles;
·     Moeda (p.31) – símbolo da humilhação que os mais pobres sofrem e da arrogância e do desprezo que os mais poderosos exercem sobre eles;
·       Três cadeiras pesadas e ricas com aparência de tronos (p.47, 121): símbolos do poder político exercido por D. Miguel Forjaz, do poder militar exercido por Beresford e do poder religioso exercido pelo Principal Sousa; símbolos da regência dos “reis do Rossio”;
·       Púlpito (p.74): símbolo do poder religioso sobre o povo ignorante que vive no obscurantismo;
·      Noite (p.60, 80, 116): símbolo de morte que será convertido em vida através da esperança de um Portugal livre; símbolo das gestações, das germinações, das conspirações que desabrocharão em pleno dia como manifestação de vida;
·       Cadeira tosca (p.83): símbolo da modéstia de Matilde;
·    Cómoda e cadeira do General Gomes Freire (p.84): símbolo dos pertences pessoais do General Gomes Freire e da sua modéstia;
·       Uniforme velho do General (p.84): símbolo de glórias e batalhas passadas, de batalhas ganhas;
·     Moeda de cinco réis (p.107, 119): símbolo da humilhação que os mais pobres sofrem e da arrogância e do desprezo que os mais poderosos exercem sobre eles; símbolo da revolta de Matilde; (p.109): ao pedir a moeda, Matilde assume a responsabilização de não ter compreendido verdadeiramente a situação da miséria do povo; (p.110): moeda enquanto medalha que relembra a luta que Matilde trava pela salvação do General; (p.120): referência às trinta moedas com que Judas foi pago pela sua traição a Cristo; (p.134): símbolo de traição da Igreja, paralelamente a Judas que traiu Cristo, também o Principal Sousa traiu os valores cristãos, trocando-os pelo poder (corrupto e hipócrita);
·      Saia verde (p.114, 137-138): símbolo do amor entre Matilde e o General Gomes Freire e da esperança que a sua morte possa dar lugar à vida e à renovação; símbolo da liberdade por associação a França; símbolo de esperança pela cor; 
.      Fogueira (p.131): símbolo de destruição e de morte, mas também de regeneração e de luz.




O narrador em Memorial do Convento





Memorial do Convento, Romance Histórico




A construção do Convento de Mafra, a cumprir uma promessa de D. João V, o espectro da Inquisição, o mistério dos poderes mágicos de Blimunda e o seu amor a Baltasar Sete-Sóis, o projecto da passarola voadora, do Padre Bartolomeu de Gusmão, e o povo trabalhador e humilde dão corpo a esta obra. Com as memórias de uma época, reinventando a História pela ficção, José Saramago constrói um romance histórico, mas simultaneamente social ao fazer a análise das condições sociais, morais e económicas da Corte e do povo. Memorial do Convento privilegia a caracterização de uma época que contrasta pelos excessos (demasiada riqueza/extrema pobreza; frequente devassidão/grandes penitências; etc.) e que mantém contemporâneas muitas das temáticas a nível social e humano (opulência/ miséria; poder/opressão; sagrado/profano; amor ausente/amor sincero e fantástico; o sonho; etc.). 

I – Contextualização de Memorial do Convento 

Memorial do Convento evoca o período da história portuguesa respeitante ao reinado de D. João V, no século XVIII, procurando uma ponte com as situações políticas de meados do século XX. Reescreve essa época de luxo e de grandeza da Corte de Portugal, que procura imitar o esplendor da Corte francesa do Rei-Sol, Luís XIV (reinado de 1643-1715). O poder absoluto e o iluminismo que configuram este século das luzes vão marcar os seus gostos estéticos e as mentalidades de uma forma decisiva. Em Portugal, D. João V deixa-se influenciar pelos diplomatas que o cercam – intelectuais estrangeirados (D. Luís da Cunha, Alexandre de Gusmão, Francisco Xavier de Oliveira – o Cavaleiro de Oliveira – e Luís António Verney) – e pela riqueza vinda do Brasil. O descobrimento no Brasil de grandes jazidas de ouro de aluvião permitiu a resolução de alguns problemas financeiros e levou o rei a investir no luxo dos palácios e das igrejas. 

Ao querer ultrapassar a magnificência do Escorial de Madrid e do Palácio de Versalhes, e em acção de graças pelo nascimento do seu filho, manda construir o convento de Mafra, com a inclusão de um grandioso palácio e uma extraordinária basílica. Por isso, o principal ministro e homem de confiança, o cardeal da Mota (D. João da Mota e Silva), solicita ao Papa o título de “Fidelíssimo” para o rei português, que adquire o cognome de o Magnânimo, devido às grandes obras no campo da arte, da literatura e da ciência, como o referido Convento de Mafra, o Aqueduto das Águas Livres de Lisboa, a Real Academia Portuguesa de História, a introdução da ópera italiana, com Domenico Scarlatti 1 (1685-1757), e a Companhia de Paheti. 

D. João V é aclamado rei a 1 de Janeiro de 1707, quando a situação económica do país se apresenta extremamente grave e Portugal se encontra envolvido na Guerra da Sucessão de Espanha. Casa a 9 de Julho de 1708 com D. Maria Ana da Áustria, irmã do imperador austríaco Carlos III. Lisboa, ao receber D. Maria Ana de Áustria para consorte do monarca, apresenta Arcos de Triunfo com alegorias do Sol (símbolo do Rei) do qual se aproxima uma Águia (símbolo da esposa austríaca), ave que o fita, sem sofrer com os seus raios. A vida sentimental de D. João V está, entretanto, marcada por várias relações: com a madre Paula (Paula Teresa da Silva), do Convento de Odivelas, com quem se envolve durante vinte anos e de quem tem um filho, o infante D. José, que chega a inquisidor-mor; com D. Madalena Miranda, uma freira do mesmo convento, que lhe dá como filho o infante D. Gaspar, mais tarde arcebispo de Braga; e com uma francesa, de quem nasce o infante D. António. 1 Domenico Scarlatti (1685-1757), filho do compositor Alessandro Scarlatti (mestre de capela da corte da rainha Cristina da Suécia), foi, em Lisboa, desde 1720, professor da infanta D. Maria Bárbara, filha de D- João V. Após o casamento desta com o príncipe Fernando VI de Espanha, Scarlatti acompanhou-a na Corte de Madrid, onde faleceu. Famoso pelas modernas técnicas do piano e do cravo, Scarlatti teve, entre os seus alunos, Carlos Seixas (1704-1742), um dos mais importantes compositores portugueses. 

Enquanto o rei se interessa pela ostentação e esplendor da Corte ou pelas suas fugas sentimentais, a Inquisição ocupa-se com a ordem religiosa e a moral, estendendo a sua acção aos campos culturais, sociais e políticos. O rigor e as perseguições do Santo Ofício aumentam no seu reinado, com as vítimas a serem não só os cristãos-novos e os que cometem delitos de superstição, feitiçaria, magia, crença sebastianista, heterodoxia, mas também os intelectuais que, muitas vezes, se vêem forçados a fugir para a Europa culta, donde trazem ideias novas. O dramaturgo António José da Silva, o Judeu (1705-1739), que Saramago refere no fim de Memorial do Convento, é uma das vítimas da Inquisição. 

O Absolutismo

Doutrina política, o absolutismo defende a concentração dos poderes legislativo, executivo e judicial numa só pessoa. O absolutismo régio estabeleceu-se um pouco por toda a Europa Ocidental, a partir da 2.ª metade do século XV. De acordo com os princípios do absolutismo do século XVIII, o poder do rei provém de Deus, o que lhe permite legislar como entende. Só com as lutas liberais (1820-1834) desaparecerá a monarquia absoluta em Portugal. 

O Iluminismo 

Movimento cultural e intelectual, na Europa dos séculos XVII e XVIII, o iluminismo pretendeu dar à razão a capacidade de iluminar ou explicar racionalmente os fenómenos naturais, sociais e religiosos. Em Portugal, este movimento tem a sua primeira fase com D. João V e os diplomatas que o cercam, como D. Luís da Cunha, Alexandre de Gusmão, Francisco Xavier de Oliveira (o Cavaleiro de Oliveira) e Luís António Verney. Da mescla do absolutismo com o iluminismo surgiu a despotismo esclarecido de D. José e do Marquês de Pombal. Algumas referências deste movimento são Descartes, Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, Montesquieu, imperadores Frederico II da Prússia e Catarina II da Rússia, Diderot, D’ Alembert e Mirabeau, Locke e Newton.

A Inquisição 

Também conhecida por Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição, criada pelo papa Gregório IX, no século XIII para combater as heresias religiosas que aparecem pela Europa, é confiada aos jesuítas e aos dominicanos, na dependência da Santa Sé. Este tribunal instala-se, no século XIII, em Espanha, na Alemanha e em França, e, no século XVI, no reinado de D. João III, em Portugal. Com frequência, serve o poder instituído, embora a sua acção esteja orientada para o combate às várias heresias e desvios religiosos, incluindo a censura aos livros, às práticas de adivinhação e feitiçaria, à bigamia. 
Com o decorrer do tempo, passa a ter influência em todos os sectores da vida social, política e cultural, e desde que haja uma denúncia o acusado está sujeito a toda a sorte de torturas físicas e mentais, incluindo a perda de bens e a morte. A força do Tribunal do Santo Ofício é enorme, mas acaba por criar conflitos entre os reis e os jesuítas, até que em 1821 é extinta. 

Memorial do Convento é uma narrativa histórica que percorre este período de aproximadamente 30 anos da história portuguesa, no reinado de D. João V, entrelaçando personagens e acontecimentos verídicos com seres conseguidos pela ficção. Saramago fundamenta-se na realidade histórica da Inquisição, da família real, do padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão (inventor da passarola voadora) e de muitas das figuras da intelectualidade e da política portuguesas, embora ficcionasse a sua acção. 

II – A Obra 

1. Título / Conteúdo 

O título Memorial do Convento apresenta uma carga simbólica quer enquanto sugere as memórias – evocativas do passado – e pressuposições existenciais quer ao remeter para o místico e misterioso. Ao lado da história da construção do convento, com tudo o que de grandioso e trágico representou, surge o fantástico erudito e popular que permite a realização dos sonhos e as crenças num universo de magia. Em Memorial do Convento, o romance histórico convive e entretece-se com o universo mágico criado pela ficção. O Convento de Mafra liga-se ao sonho dos frades que aproveitam a oportunidade de terem um convento, mas reflecte, sobretudo, a magnificência da Corte de D. João V e do poder absoluto, que se contrapõe ao sacrifício e à opressão do povo que nele trabalhou. A construção do Convento de Mafra, o espectro da Inquisição, o projecto da passarola voadora do Padre Bartolomeu de Gusmão e um conjunto de outros factos que sucederam durante o reinado de D. João V são corpo a este memorial. Com as memórias de uma época, é um romance histórico, mas simultaneamente social, ao fazer a análise das condições sociais, morais e económicas da Corte e do povo. 

2. Classificação: tipo de romance 

Podemos classificar a obra Memorial do Convento como um romance histórico, um romance social e de intervenção e ainda como um romance de espaço: 

Romance Histórico 

Memorial do Convento oferece-nos uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa do início do século XVIII, marcada pela sumptuosidade da Corte, associada à Inquisição, e pela exploração dos operários, metaforicamente apreciados como se de tijolos se tratassem para a obra do Convento de Mafra. A referência à guerra da Sucessão, em que Baltasar se vê amputado da mão esquerda, a imponência bárbara dos autos-de-fé, a que não falta a “alegria devota”, a construção do convento, os esponsais da princesa Maria Bárbara, a construção da passarola voadora pelo Padre Bartolomeu de Gusmão e tantos outros acontecimentos confirmam a correspondência aproximada ao que nessa época ocorre e conferem à obra a designação de “romance histórico”. 

Romance social e romance de intervenção 

Próximo da linha neo-realista, preocupado com a realidade social, em que sobressai o operariado oprimido, Memorial do Convento apresenta-se também como um romance social ao ser crónica de costumes de uma época reinterpretada para servir os objectivos do autor empírico. E, nesta medida, pode afirmar-se como romance de intervenção que visa a história repressiva portuguesa da 1.ª metade do século XX. Note-se que o passado se presentifica e sugere um presente actuante, quer pela intemporalidade de comportamentos, desejos ou anseios, quer pela denúncia de situações de opressão, repressão e censura no momento da escrita. Em Memorial do Convento há uma tentativa de encontrar um sentido para a história de uma época que permita compreender o tempo presente e recolher ensinamentos para o futuro. Romance de Espaço Se optarmos por uma classificação de acordo com os elementos estruturais da narrativa – personagem, espaço e acontecimento – recebe a denominação de romance de espaço ao representar uma época, interessando-se não apenas por traduzir o ambiente histórico mas também por apresentar vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano. A riqueza do cenário, reconstruindo Lisboa e diversas povoações em seu redor, permite:  
- observar as preocupações com os factos históricos e as vivências do povo humilde; 
- espreitar a intimidade e os deveres conjugais – “duas vezes por semana” – do rei D. João V, que necessita de herdeiros; 
- assistir à construção de um convento em Mafra; 
- recordar a passarola voadora do Padre Bartolomeu Lourenço; 
- reviver as perseguições religiosas e políticas da Inquisição. 

Sempre que pode, uma voz narrativa insurge-se sarcasticamente contra os repressores: “Devagar, a terra aproxima-se, Lisboa distingue-se melhor, o rectângulo torto do Terreiro do Paço, o labirinto das ruas e travessas, o friso das varandas onde o padre morava, e onde agora estão entrando os familiares do Santo Ofício para o prenderem, tarde piaram, gente tão escrupulosa dos interesses do céu e não se lembram de olhar para cima, é certo que, a tal altura, a máquina é um pontinho no azul.” 

Fonte:https://ciberjornal.files.wordpress.com/2009/01/memorial-do-convento-contextualizacao.pdf








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